Angela Davis e a luta constante pela liberdade

Angela Davis, filosofa e professora já aposentada pela Universidade da Califórnia, fez parte do Partido Comunista nos Estados Unidos da América. Também alinhada aos Panteras Negras, Angela foi presa no ano de 1970 quando então, ficou reconhecida pelo movimento de proporção mundial: “Libertem Angela Davis”.

Angela Davis, que teve algumas de suas obras publicadas no Brasil pela Editora Boitempo, esteve pela primeira vez em São Paulo e também no Rio de Janeiro, a convite da editora para participar do Congresso Internacional Democracia em Colapso. O Congresso teve espaço no Sesc Pinheiros do dia 15/10 a 19/10/2019. Eu, Marina Moreira, que tenho Angela Davis como primeira influência do feminismo negro, tive a oportunidade de estar presente no congresso internacional e por isso, não poderia deixar de materializar em palavras o que a experiência me trouxe.

Foto: Marina Moreira

Não é tarefa fácil escrever sobre Angela Davis, uma mulher que desde os anos 70 inspirou e inspira multidões. Angela teve uma passagem rápida pelo Brasil marcada por muita inteligência, sabedoria e emoção.

Abordando o tema “A liberdade é uma luta constante”, Angela abordou em sua fala a complexidade do sistema de encarceramento racista que impede a participação da mulher negra na luta por seus direitos na sociedade. A intelectual reverenciada também comenta toda a contribuição que essas mulheres são capazes de proporcionar por estarem na base da estrutura social. O aprisionamento de mulheres negras, que na realidade brasileira é ilustrado pelo caso de Preta Ferreira impede que exista a real democracia, tendo em vista que não há democracia sem a nossa participação.

Falar sobre a liberdade é entender que o aprisionamento está diretamente ligado às formas de policiamento e a como a  atuação da polícia contribui para o genocídio de cidadãos negros. Junto a isso, Angela compreende que as ações de policiamento tem grande contribuição para a negação da liberdade, tendo em vista o número exorbitante de negros encarcerados no Brasil e nos Estados Unidos. Além disso, Angela afirma que, enquanto mulheres negras também estiverem aprisionadas, a liberdade não estará para todos. A liberdade para as mulheres negras é portanto, a liberdade para todos. 

Apoiar movimentos liderados por mulheres negras, foi outro ponto que Angela Davis enfatizou. É preciso apoiar a luta de nossas mulheres negras para que tenhamos uma ascensão a nível estrutural. Romper as bases dessa estrutura é levar a sociedade para frente, pois “quando uma mulher negra se movimenta, toda a sociedade se movimenta junto”. 

Diante disso, Angela Davis compreende que ela é uma mulher negra influente e que o feminismo negro a tem como referência. Porém, Angela adverte que devemos parar de nos espelhar nos Estados Unidos e reconhecer que possuímos também grandes mulheres negras influentes e importantes para o feminismo negro no Brasil, como: Sueli Carneiro, Lélia Gonzalez, Luiza Barros assim como tantas outras citadas por Angela.

“Eu venho aqui e sinto que mais aprendo do que ensino. Me sinto estranha por vocês me buscarem como o nome do feminismo negro. Por que vocês querem isso? Eu não deveria ser uma referência. Não gosto de me ver como ícone.”

Sueli Carneiro
fotp: Caroline Lima site: https://revistamarieclaire.globo.com

Atenta aos acontecimentos políticos brasileiros, Angela Davis se manifestou contra o atual presidente do país, – do qual ela preferiu não “invocar” o nome -, se solidarizou com o movimento “Lula Livre” e mencionou Marielle Franco amplamente em toda sua fala.

Angela Davis demonstrou que todos os embates que passou em sua vida política, não a fizeram desistir da luta. Ela demonstrou que, apesar de sua idade, ela segue firme em seus posicionamentos e nos encoraja a seguir em frente com a luta. Precisamos, portanto, lutar pela liberdade de todas as Pretas e entender, acima de tudo que: a liberdade é uma luta constante.

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